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[DEVANEIOS] UFC e violência como escapismo

Luan Alencar


De repente, tal qual as modinhas das calças coloridas, dos bolsos escapando dos shorts e da veneração de cantores com cara de pato, explodiu a mania do UFC no Brasil. Eu não sou o ser humano mais experiente no assunto, mas poderia chutar que o motivo do boom foi a aparição do Anderson Silva, chamado por aí de o "novo Ayrton Senna", de tão venerado que o cara é. E o Devaneios de hoje é a respeito da MINHA OPINIÃO sobre tudo isso.

Me deu vontade de escrever sobre isso quando, numa segunda-feira em que fui entregar uns filmes na locadora, estava passando no recinto o tal do "Anderson Silva: Como Água". E aí veio à tona a luta que vai rolar entre Silva e um tal de Chael Sonnen. Se você, como eu, caga e anda foda pra isso e não faz ideia de quem seja esse maluco, pelo o que eu entendi, é um maluco que xingou o atleta brasileiro e o nosso intocável país e marcaram uma luta entre eles pro próximo final de semana do Super Bowl. 


A reação da galera que tava na locadora foi de euforia. "Esse cara vai se arrepender de ter nascido", "Vai ser o primeiro Fatality da história do UFC", e frases do tipo. Vamos voltar um pouco no tempo e lembrar-nos daquele episódio envolvendo uma declaração do Robin Williams na época da eleição do Brasil pra sediar as Olimpíadas. O cara foi em um programa com uma puta audiência e disse que a gente ganhou porque deu cocaína e prostituas para os organizadores (gênio). Nós, um país que não dar o menor motivo para tirarem sarro da gente, evidentemente ficamos com vontade de sacarmos nossas 38, bazucas e Hatori Hanzos e partirmos pra cima do pobre do Pet Adams. Por que não fizemos isso? Porque somos teoricamente civilizados, regidos por uma norma pré-estabelecida, chamada de moral, que nos impede de cometer essas barbáries. 

O que o UFC representa é justamente uma espécie de mundinho onde você pode jogar fora esses conceitos e liberar toda sua fúria animal. Com Robin Williams não aconteceu nada e a galera teve que engolir seco aquela declaração, com gostinho de liberdade de expressão. Mas eu vou te contar como é que isso virou esse império tão grandioso:

O cidadão americano tem sua vida padrão. Na segunda-feira ele acorda depois de um final de semana em que seu time perdeu no baseball, o que acarretou em uma frustração tão grande que ele não conseguiu ~comparecer~ naquela noite, deixando-o ainda mais deprimido. Se arruma e vai pro primeiro dia de trabalho na semana, faz uma merda qualquer e leva um glorioso cagaço do boss. A vontade é de quebrar os dentes do gorducho engravatado, mas para não perder o salário no final do mês, apenas abaixa a cabeça e aceita o fardo. Na terça-feira ele fura o pneu do carro. Na quarta, tem que ir no colégio do filho porque ele fez alguma traquinagem e foi parar na coordenação. Na quinta briga com a esposa que estourou o limite do cartão. E na sexta, novo carão do chefe, porque não entregou os relatórios do dia. 

Imagina a raiva acumulada nesse homenzinho. Então, qual a terapia dele? Ir pra um estádio com centenas de pessoas em volta de um octógono, onde dois homens irão se digladiar até que um deles caia inconsciente no chão. Cada soco, roundhouse kick, mata-leão ou chave de braço de um brutamontes no outro, é o equivalente a uma porrada no chefe maldito, na coordenadora do colégio, no prego que furou o pneu do carro e na esposa que gastou mais do que devia. 

Deu pra notar que eu sou totalmente contra essa cultura, mas não tô julgando quem curte. Bom pra você, que agora tem todos os canais do universo falando só disso. O que eu gostaria de levantar aqui é até onde vai o uso da violência como forma de escapismo ou de resolução de problemas. Eu fico até meio assustado, porque isso é idêntico aos Coliseus romanos e a política do "pão e circo" utilizada pra alienar entreter a população. 

Eu sei que é contra as regras desses "esportes" um maluco matar o outro, mas fico me perguntando se no dia em que isso acontecer, qual será a reação de quem assiste. Por exemplo, se Anderson Silva hipoteticamente matasse o Chael Sonnen, depois de todo o alarde criado em torno da luta, você realmente acha que as pessoas iriam se compadecer diante de uma morte em frente a eles? Na minha visão, o mais provável seria saudação fervorosa para o maior lutador de todos os tempos que não deixou impune o homem que falou mal de seu país de origem.

Eu sinceramente não vejo muita diferença entre um bullying metido a fortinho ameaçando o nerd com um "te pego na saída" e essas promessas de lutas televisionadas e idolatradas por tanta gente. E me deixa triste saber que o maior ídolo do esporte brasileiro hoje seja um representante dessa galera. Novo Ayrton Senna? Senna, que eu saiba, levava milhões de brasileiros à loucura (e às lágrimas) sem precisar derramar uma gota de sangue. Falo isso sem nem gostar de Fórmula 1, mas é que é fácil reconhecer um "herói" de verdade. 

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Author: admin
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