Crítica - Shrek Para Sempre
Quando a piada acaba, é melhor parar por aí.
A Dreamworks decidiu mudar o rumo da franquia do nosso querido ogro e cometeu Shrek Terceiro. Mantendo a proposta de pouco sucesso mas tentando melhorá-la, somos apresentados a Shrek Para Sempre, filme que promete, pelo menos por enquanto, encerrar a franquia.
Ogros são seres violentos, assustadores, que vivem em pântanos e saem para caçar. Correto? Não para Shrek. Depois de se casar com Fiona, ter seus três filhos e se tornar o rei de "Tão Tão Distante", Shrek se vê preso a uma rotina que não é a que estava acostumado e acaba entrando em uma crise de identidade. Afinal de contas, nenhuma criança mais tem medo de seus urros, e algumas ainda pedem por eles.
Por não se sentir mais um verdadeiro ogro, no aniversário das crianças do casal, Shrek e Fiona acabam tendo uma briga feia. Desolado, nosso protagonista cruza com o duende trapaceiro Rumpelstitskin que o faz uma proposta: voltar a ser um ogro como nos velhos tempos por um dia, e para isso, tudo o que Shrek precisa fazer é doar um dia da sua vida para ele.
Claro que não seria tão simples assim. O duende acaba escolhendo o dia em que Shrek nasceu, logo, não foi ele quem salvou a princesa Fiona do castelo e, por sua vez, os pais da princesa assinaram um acordo com Rumpelstitskin para libertá-la em troca do reinado de "Tão Tão Distante". Resumindo, nessa realidade alternativa, o tal duende trapaceiro é o rei, Fiona fugiu do castelo e se tornou uma guerreira, as bruxas tem liberdade para caçar os ogros, o Burro virou um empregado das bruxas, o Gato de Botas virou um bixinho de estimação mimado e gordo e, nenhum deles sabe da existência de Shrek. Fica óbvio, logo nos primeiros vinte minutos de película, que a trama toda será em torno de Shrek tentando reconquistar Fiona para que tudo possa a voltar como era antes.
Ainda que não haja mais sátiras aos contos de fadas, os personagens que poderiam ser responsáveis pela carga cômica do filme, Gato e Burro, são extremamente mal aproveitados, principalmente o primeiro. Os mais secundários, que vimos nos filmes anteriores, como Pinocchio ou o Biscoito passam despercebidos, ao ponto de você terminar de assistir e se perguntar: "Eles realmente tiveram alguma participação aqui?". E a falta de criatividade fica evidente, por exemplo, na repetição da cena do Gato com sua carinha fofinha pedindo ao Burro que coçe as suas costas.
O que começou como uma inteligente sátira, se tornou uma comédia romântica como qualquer outra. Sim, você vai rir em alguns momentos, ainda que com pouco tempo em tela, os personagens secundários vão conseguir te arrancar uma risada ou outra. E já a parte romântica é apressada, ao ponto de na terceira conversa mais prolongada entre Shrek e Fiona, já começar a rolar uma química.
Dois ótimos primeiros filmes, um terceiro medíocre e uma tentativa de, pelo menos, finalizar uma quadrilogia de maneira mais decente. Talvez assim possa ser resumida a franquia Shrek. As paródias dos clássicos contos de fadas da Disney, as sacadas inteligentes e até mesmo um certo teor de humor negro (muito disfarçadamente, é claro) se esgotaram em Shrek 2. E aí que vem a pergunta: se o principal trunfo da série não existe mais, pra que tentar continuar? A resposta não é nenhum mistério: Shrek dá dinheiro, e é isso o que importa.
Nota: 6,0