Lucy In The Streets With Zombies - Capítulo III
Capítulo III
Ela tem uma espada e jogava Mortal Kombat
Deu meia volta e pedalou. Pela sua vida. Mesmo com o pé ferido, nunca tinha atingido tamanha velocidade em tão pouco tempo. Acontece que os lobos não comiam há semanas e o cheiro de sangue se mostrava convidativo ao extremo. O líder da alcatéia foi na frente, alcançou o ofegante ciclista e com suas enormes garras, desferiu um golpe na roda trazeira de Lucy, que não aguentou o baque e caiu, tornando seu dono uma presa fácil para os famintos predadores.
O maior deles ficou em posição de ataque e pulou para cima do pobre garoto que já chorava de desespero. E quando aqueles dentes afiados distavam poucos centímetros dos olhos assustados dele, ouviu o "BAM".
Fechou os olhos sabendo do seu destino.
Porém, o conhecido som de arma recarregando elucidou o garoto. Não estava morto. Em vez disso estava deitado com um lobo ensanguentado ao seu lado. A ruiva colocou o rifle no ombro, abriu um boeiro ali próximo e ordenou:
- Vem! Entra aqui!
Ainda restavam dois lobos, mas o menino saltou no buraco e salvou sua vida. Estava tudo escuro, mas a moça começara a trabalhar em uma fogueira. Se sentiu um inútil em não saber como ajudar (no momento pensou em como ainda estava vivo na atual situação), mas apesar do remorso, permaneceu parado vendo-a acender o fogo.
Depois de iluminado, era possível analisar o local. Parecia um abrigo nuclear com um toque feminino. Estantes armazenavam comidas enlatadas, produtos de higiene e toda munição encontrada. Alguns porta-retratos de familiares e cachorros enfeitavam as surpreendentemente limpas paredes de concreto. Felizmente não vira nenhuma foto com um possível namorado ou noivo. Uma mesa de canto era o lugar dos armamentos. Ali estavam o rifle que acabara de salvar a vida do rapaz, duas pistolas, cinco facões, um machado e uma espada.
- Aquilo ali é uma espada de verdade?- É. Um dia eu fui procurar comida e passei por um museu medieval que costumava ir nos dias de tédio. Achei que pegar uma espada não seria má ideia.- Você ía pra um museu medieval pra passar o tédio?- Nunca fui uma menina como as outras, garoto. Desde cedo entrei no Kung Fu, sei manusear espadas, facas e sei atirar.- Caralho! Isso é... foda. Não me entenda mal, é que todas as garotas que eu conhecia só se interessavam em roupas e bolsas de marca. Provavelmente estão todas mortas a essa altura.- Tô ligada. Eu já fui assim. Mas quando meus pais morreram eu tive que me virar sozinha. Aprender a me defender foi o melhor jeito de manter os engraçadinhos longe. E não posso dizer que não foi útil. Estaria morta há um bom tempo se não fosse pelo que aprendi nessa época.- Pode crer. - e ficou fantasiando a garota com a roupa do Bruce Lee indo matar o Bill.
Aquilo era bom. Ele já tinha perdido as contas da última vez que tivera uma conversa tão longa e agradável com alguém. Talvez fosse na última partida de Call of Duty com seus amigos.
- Escuta: ninguém entra aqui, sabia disso?- Eu pude notar. Desculpa, quando amanhecer eu subo, procuro minha bicicleta e volto - falou envergonhado, mas tomou coragem e confessou - Sabe... sabe quando, tipo, na vida normal, antes disso tudo, certos momentos nos davam lampejos de felicidade?- Tipo quando você mata o Shao Kahn no Mortal Kombat? - brincou a menina, enquanto ele sorria pela primeira vez em muito tempo e tinha a certeza que precisava namorá-la de qualquer jeito.- Caraca, você tem uma espada e jogava Mortal Kombat... Mas enfim, é... tipo isso. Bom... desde que o mundo virou esse lugar fudido, eu nunca mais tive esses lampejos. Até agora.- Hum... Tá... Bem... É melhor a gente dormir, né? Dia corrido amanhã.- Claro, claro. Eu me viro aqui, durmo nesse canto. Boa noite.
Ela não respondeu. Se deitou, arrependido de ter falado aquilo. Provavelmente estragara tudo. Mais uma vez. Foi aí que ouviu:
- Maria Luíza.- Oi?- Meu nome... Maria Luíza.- Eduardo. O meu é Eduardo.
- Boa noite, Duda.