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[Clássicos] A Última Sessão de Cinema

Isabelle Caetano


Todos nós temos espaço reservado em nossos corações para filmes “teen”, certo?



De John Hughes a Crepúsculo (polêmica), o hall de filmes destinados a um público que ainda não saiu da casa dos pais e tem de lidar com os grandes dilemas da vida conturbada de adolescente é representado por diversos títulos. Alguns se limitam a fazer um retrato estereotipado de uma juventude movida a sexo, drogas e rock’n’roll, cujo cérebro corresponde, talvez, à metade do tamanho de uma azeitona, enquanto outros mais marcantes se propõem a narrar de forma honesta, intimista e existencialista os temas comuns a essa fase. É a esta ultima categoria que pertence o aclamado “A última sessão de cinema”, do cineasta Peter Bogdanovich.

Não é de se espantar que você, leitor do nerdverso (que faz parte de um grupo bastante seleto de indivíduos com elevado bom gosto e alto discernimento crítico acima dos padrões normais da sociedade), jamais tenha ouvido falar nesse tal de Peter, que não tem super-poderes mas foi responsável por uma das maiores obras do cinema norte-americano. A carreira do diretor é realmente apagada e pouco relembrada pelo público, apesar de possuir na sua lista alguns filmes bem avaliados pela crítica. Um dos seus trabalhos, inclusive, foi apontado por nosso tão amado Tarantino como um dos doze melhores filmes de todos os tempos, Muito Riso e Muita Alegria (1981), que possui uma das histórias de bastidores mais escandalosas de Hollywood, com direito à traição e ao assassinato de uma das atrizes envolvidas no longa pelo marido, por conta do envolvimento da moça com o diretor. Porém, polêmicas à parte, o grande marco da carreira de Peter Bogdanovich, e que deixou uma forte contribuição para história do cinema norte-americano, é o tema do nosso “Clássicos” de hoje.

Lançado no início da década de 70, “A última sessão de cinema” acompanha o cotidiano de três jovens em uma cidadezinha texana perdida no meio do nada, durante os anos 50. Perceba que a expressão “cidadezinha perdida” faz jus total à condição do lugar, onde as únicas opções de diversão se resumem a um cinema caindo aos pedaços e a um salão de bilhar que esta quase sempre deserto. Já era de se esperar que, num lugar desses, a vida dos protagonistas fosse completamente tediosa.

De fato, as coisas para Duane Jackson (Jeff Bridges), Sonny Crawford (Timothy Bottoms) e Jacy Farrow (Cybill Shepherd) não são nada promissoras. Suas vidas extremamente vazias e sem perspectivas são retratadas brilhantemente por Peter Bogdanovich, que construiu uma narrativa bela e sensível, como poucas conseguem ser. O dia-a-dia monótono da cidade serve como palco para o desenrolar do relacionamento entre os jovens, as suas descobertas sexuais e os seus conflitos com os adultos e com a realidade desoladora que os cerca.

Enquanto os protagonistas lidam com estas questões, o restante dos moradores estão estagnados na melancolia das suas existências sem propósito. Os adultos parecem sempre infelizes, insatisfeitos com a vida que levam, ora presos a um casamento indesejado e ansiosos por válvulas de escape à realidade, ora perturbados por nostálgicas lembranças de sonhos frustrados. A condição da vida dessas pessoas denuncia o futuro dos jovens, que terão o mesmo destino cruel se continuarem na cidade, onde tudo de melhor, uma hora ou outra, será inevitavelmente apagado.

É nesse quadro deprimente que se desenvolve a amizade entre Sonny e Duane, aqueles típicos amigos de longa data e inseparáveis, que por motivos de força maior (leia-se por um rabo de saia que atende pelo nome de Jacy), acabam enfrentando momentos difíceis juntos. A personagem de Cybill Shepherd vive unicamente em função de perseguir aventuras amorosas, seduzir os rapazes da cidade e quebrar seus corações. Uma vida totalmente fútil, mas que não foge à regra da existência e do cotidiano vazios do restante dos personagens.




A química entre os protagonistas funciona perfeitamente. Talvez, este seja um dos motivos principais pelo qual “A última sessão de cinema” tenha se revelado como um dos filmes mais encantadores que já vi. Não se poderia esperar mais do elenco. Jeff Bridges, ainda muito novo no filme, mostra que seu talento esta na veia mesmo, enquanto Cybill Shepherd exerce uma sensualidade enfeitiçadora, não sendo à toa que o diretor tenha se apaixonado pela atriz durante as filmagens. Impressionante também é o desempenho do desconhecido Timothy Bottoms (irmão gêmeo do George W. Bush), cuja atuação conseguiu transmitir perfeitamente toda a sensibilidade e complexidade do seu personagem.

Junto com o elenco incrível, a linda fotografia em preto e branco e a trilha sonora saudosista conferem uma atmosfera melancólica a todo o filme. Frequentemente simpatizo com filmes cuja magia não esta numa pretensão de serem obras grandes e épicas, mas na simplicidade com que a narrativa é trabalhada, característica tão bem presente em “A última sessão”. Muitas vezes essa simplicidade esconde mais significados do que se poderia imaginar. E é assim que o filme do Peter Bogdanovich consegue nos encantar, com seu ritmo lento e diálogos agradáveis, ou por meio dos momentos cômicos, dos de puro erotismo ou daqueles compostos por meras imagens bonitas que passeiam pela tela. Além de, é claro, prestar homenagem ao velho cinema de Hollywood representado, por exemplo, pelos clássicos do John Wayne, uma das figuras desse meio que eu mais admiro, por ser o grande ícone de toda uma geração acostumada com os heróis e tipos do faroeste. 

No mais, ver o Jeff Bridges em início de carreira, num papel em que ele esta tão bem e pelo qual recebeu uma indicação ao Oscar (no total, o filme foi indicado a oito estatuetas, incluindo a de melhor filme), já é motivo suficiente pra procurar “A última sessão de cinema” em alguma prateleira empoeirada por ai. Não deixa de ser uma excelente opção para aquele domingo melancólico (domingo melancólico é pleonasmo, não?) e chuvoso.

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Author: admin
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