Crítica HQ - MARVELS

Para muitos, a obra-prima da Marvel.

O ponto mais marcante que diferencia a DC da Marvel, é talvez o universo que esta última criou. É como se esses seres fantásticos com super-poderes vivessem no nosso mundo, tendo, inclusive, responsabilidades e problemas assim como os nossos. Peter Parker é o Homem-Aranha... mas tem que pagar as contas e ajudar sua tia em casa. 

MARVELS é uma Graphic Novel que procura aproximar ainda mais os tais "maravilhosos" do mundo real. Escrita pelo renomado Kurt Busiek e brilhantemente desenhada por Alex Ross (em artes que mereceriam um artigo à parte), conta a história do fotógrafo Phil Sheldon, que vê no início da Segunda Guerra Mundial, a oportunidade de subir em sua carreira, registrando as aparições dos super-heróis no cotidiano.

Paralelo aos primeiros discursos de Hitler e a iminência do conflito mundial, acompanhamos o surgimento de Tocha, o primeiro herói da Marvel e seu consequente arqui-vilão, Namor. Tudo maniqueísta, o clássico água contra fogo, inocente tal qual os primeiros quadrinhos da Era de Ouro. Porém, isso não dura por muito tempo, já que quando a guerra se inicia, vem com ela o novo esquadrão de heróis: os Vingadores. Símbolo da confiança norte-americana em seu potencial de vencer o conflito. 

A relação da sociedade com os super-seres é retratada de forma brilhante. Lembre-se que o protagonista aqui não é o Capitão América, nem Homem de Ferro... é um mero fotógrafo. E é do ponto de vista deste que acompanhamos a sociedade a sua volta confiante por estar sendo protegida pelos Vingadores. As dondocas correndo para as bancas para ficar por dentro do casamento mais badalado do momento: Reed Richards e Sue Storm. 

A passagem de tempo e representação de épocas, perfeitas por sinal, mostram como Sheldon consegue seu relativo sucesso a medida que a idade avança e novas criaturas surgem. A aparição dos primeiros mutantes marca a passagem mais bem realizada da revista. Pela primeira vez, pessoas comuns poderiam adquirir super-poderes, gerando desconforto da população, insegura por não saber em quem confiar e na possível criação de uma raça superior. Talvez seja a melhor, ainda que breve, retratação dos X-Men (e mutantes em geral) nos quadrinhos.

Kurt Busiek merece todos os méritos possíveis por ter reunido absolutamente todos os eventos mais importantes da Marvel nessa obrigatória Graphic Novel. Acompanhar a morte de Gwen Stacy; a luta contra Galactus; a ida dos Vingadores à guerra, pela ótica de um ser-humano comum pela primeira vez é simplesmente incrível.

Já Alex Ross, com sua arte que beira a perfeição, mais parecendo fotografias, tamanho o nível de detalhes, torna tudo aquilo muito mais crível. É possível, por exemplo, observar as dobras no uniforme dos heróis ou até mesmo reparar que o Homem-Aranha usa uma meia, ao invés de botas (afinal, se a pele dele que gruda nos locais, como uma bota faria o serviço?). 

Talvez não seja a Graphic Novel ideal para iniciar um leitor no mundo dos quadrinhos, por se tratar de algo nunca antes visto, e que não se repete com frequência por aí. Não é o que o leitor habitual está acostumado a  ler. É mais profundo e com uma pegada mais realista. Às vezes levam-se páginas e mais páginas para se deparar com um herói, e geralmente os vemos de relance. Mas é, sem dúvida, uma obra-prima, daquelas pra esfregar na cara de quem ainda repete a velha asneira de que quadrinho não é literatura.  

Nota: 10,00
Roteiro: Kurt Busiek
Arte: Alex Ross
Ano: 1993