[ESPECIAL VINGADORES / CINEMA] Resenha: Os Vingadores
Luan Alencar
Só faltou um prefácio do Stan Lee e o cheiro das páginas dos quadrinhos.
Toda aquela paranóia, o medo da galhofa, as milhões de possibilidades de algo tão grande dar muito errado, foram pro saco logo nos primeiros minutos de exibição de Vingadores. E a saída para tudo isso não acontecer foi como um grandioso tapa do Incrível Hulk na cara de milhões de chatinhos que torciam para o longa ser uma broxada. Isso porque Joss Whedon, novo membro da Santíssima Trindade Nerd e diretor da bagaça, mostrou que a melhor saída para uma adaptação de quadrinhos dessa proporção é tratá-la para que os espectadores sintam a mesma energia e carinho que sentiam ao ler os inocentes e despretensiosos gibis dos Vingadores pelas mãos de Stan Lee e Jack Kirby lá pelos anos 60 em diante.
E antes que você vire a cara e diga que o clima daqueles quadrinhos não colam mais, pois vivemos na época da DarkKnightização, o próprio filme novamente te esculacha num diálogo sensacional entre Agente Coulson e o Capitão América, quando o bandeiroso pergunta se seu uniforme não está muito "fora de moda" para os dias atuais e o assumidamente nerd e funcionário da S.H.I.E.L.D. responde brilhantemente que com todas as tragédias que estão acontecendo, talvez as pessoas precisem de algo um pouco fora de moda.
E essa cena, meus caros, é o que verdadeiros fãs de quadrinhos e cultura pop em geral defendem até a morte. Não é uma situação muito diferente, por exemplo, de quando te perguntam por que você, já com seus trinta anos, ainda "perde tempo" vendo historinhas para crianças no cinema. Afinal de contas, o mundo está absurdamente sisudo, chato, e não há tempo para escapismos. Os Vingadores é esse escapismo.
Não que a essa altura do campeonato você precise saber, mas para cumprir tabela, a Iniciativa Vingadores é reativada por Nick Fury (Samuel L. Jackson), chefão da S.H.I.E.L.D. por que Loki (Tom Hiddleston) rouba o Tesseract (ou Cubo Cósmico, como queira) e com ele tem em mãos a capacidade de criar portais para outros mundos, com o objetivo de trazer o exército dos Chitauri para dominar a Terra.
É quase que inédita uma aventura cósmica desse tamanho na atual fase de adaptações dos quadrinhos para o cinema (Lanterna Verde é café com leite, né? Ignora), e o medo do desconhecido obviamente atormentava a nerdalhada toda. Mas a parada é cheia de segredos para acontecer de maneira sensacional.
Primeiro que nós já vimos nos filmes individuais de cada herói do grupo (Homem de Ferro, Thor, Capitão América e Hulk) que eles são capazes de contornar sozinhos situações de altíssimo risco, portanto, só mesmo um caos de proporções universais para justificar a união de todos eles.
Segundo que a Marvel soube como ninguém construir essa trama lentamente desde 2008, com o primeiro Homem de Ferro, de forma que mesmo que tenham origens e universos distintos, todos os Heróis Mais Poderosos da Terra tem alguma ligação entre si. Ora, as Indústrias Stark são responsáveis pelo desenvolvimento do soro do supersoldado que está relacionada com a origem do Hulk e, claro, do Capitão América, que por sua vez combateu o Caveira Vermelha para impedi-lo de usar o Cubo Cósmico, que acabou sendo congelado junto com o bandeiroso, encontrado pela S.H.I.E.L.D. e roubado por Loki, irmão de Thor, para abrir os portais e, claro, justificar a vinda do Deus do Trovão para a Terra.
No fim das contas, a união de toda essa galera contra os planos maquiavélicos do Deus da Trapaça é extremamente orgânica. E isso se deve a um grandioso trabalho em equipe (mais uma vez) entre roteiristas, direção de arte, diretor, atores e tudo mais. O roteiro e direção de Joss Whedon é tão seguro, já que o cara é um dos maiores nerds de todos os tempos, que passa propriedade sem medo de errar. É o completo oposto daqueles filmes feitos por um bando de executivos velhos que só estão atrás de dinheiro e cagam pro contexto em que o produto se encontra.
Todos os diálogos e cenas de ação acontecem por um motivo bem justificado e são pra fazer os apaixonados pelo Universo Marvel chorarem de emoção. Algo que se dá também pelo carisma assustador de todos os atores envolvidos. Puxados evidentemente pelo gênio, playboy, bilionário, filantropo Tony Stark, interpretado por um Robert Downey Jr. já extremamente à vontade no papel que nasceu para fazer; com a liderança da figura imponente do Capitão América do surpreendente Chris Evans que... quem diria, né? Contando ainda com o competente Thor, em que Chris Hemsworth não se destaca, mas faz com propriedade o que o papel pede; e a novidade no elenco, Mark Ruffalo na pele do Dr. Banner/Hulk, que me fez realmente abrir um sorrisão no rosto quando nos primeiros minutos em que apareceu, me fez esquecer completamente as antigas versões do personagem.
E a interação dos heróis é, sem dúvida, o maior destaque do longa. Isso porque segundo a Cartilha Marvel, antes de dois heróis se entenderem para se unirem em prol de um bem maior, eles precisam cair na porrada. E, graças a Odin (e a Whedon), Os Vingadores faz isso com maestria. As bem justificadas porradarias são puro orgasmo nerd. Em momento nenhum parece que há uma disparidade enorme entre a força do Deus do Trovão com um mero cara numa armadura. Ou entre um supersoldado (que ainda assim é um humano) e o poderoso Loki.
E além de cenas de ação de tirar o fôlego, uma mais bem coreografada que a outra, essa relação entre os heróis guardam os melhores alívios cômicos da história da Marvel no cinema. E a maioria deles tem como foco o Hulk. Que, na boa, pra mim foi o cara mais foda daquela bagaça. Toda a brutalidade do Gigante Esmeralda, sabiamente orquestrada por uma captura de movimentos pra lá de vitoriosa, foi o que tirou mais risadas e gritos de empolgação da galera no cinema.
Já os "papéis secundários" ainda tem um baita destaque, já que mais do que nunca, o Agente Coulson de Clark Gregg tem uma BAITA importância pra trama; o Nick Fury de Samuel L. Jackson finalmente não está preso à cenas pós-créditos de dois minutos e pode mostrar toda a sua motherfuckerdade; e a dupla Natasha Romanoff/Viúva Negra de Scarlett Johansson e Barton/Gavião Arqueiro de Jeremy Renner tem uma química supimpa, e ambos tem papéis fundamentais pro decorrer da história.
As aspas em "papéis secundários" no parágrafo acima são justificadas porque o filme dá uma aula de aproveitamento de personagens. Mostrando que mesmo com TANTA GENTE em cena, é possível se aprofundar em cada um. Nem que para isso seja necessário um primeiro ato mais arrastado, o que em nenhum momento se torna um erro, e sim uma inteligente construção para um clímax absurdamente explosivo, como não poderia deixar de ser.
E como já foi dito, a aventura é antagonizada pelo sensacional Loki de Tom Hiddleston, que tem momentos geniais em tela com cada um dos protagonistas. É até difícil dizer aonde o cara se sobressai, porque ele vai da profundidade e crueldade de um diálogo super tenso com a Viúva Negra, até uma gag visual de fazer chorar de rir com toda a brutalidade do Hulk. O cara, que já tinha sido o destaque em Thor, se impõe perante o elenco estelar de Vingadores, com sua atuação brilhante, trazendo uma real ameaça para o grupo.
É difícil dizer se Os Vingadores é o melhor filme de HQ da história. Mas, acredito que seja unanimidade que é o mais divertido. E foi essa a proposta. Não dá pra se levar tão a sério com uma trama dessas. Não é pra se levar a sério. Stan Lee criou um império amado por milhões de fãs assim, brincando de fazer super-heróis defenderem a Terra. Está na hora da gente voltar pra essa época e se divertir sem culpa. Dentro do cinema, tudo aquilo é possível. Deixa a chatice do mundo pra quando você voltar pro trabalho.
Nota: 10,0